Nunca me senti uma pessoa nostálgica, dessas que sofre com a passagem dos anos. Acho que acompanhava o tempo passar, e gostava das mudanças que essa passagem permitia. Não me oponho freneticamente às novas tecnologias, nem acho que a eletricidade é o maior mal da humanidade.
Desta vez, em Florianópolis, foi diferente. Quando era pequena, costumava passar as férias lá, com meu pai e irmãos. Um dos programas que nunca faltava no roteiro era visitar a avenida que fica na frente da Lagoa da Conceição e comprar rendas. Eu, na verdade, não gostava muito do passeio, não achava dos mais adequados para minha idade e preferia ficar à beira mar. A cidade era famosa pelas rendas de Bilro, tendo inclusive um monumento em sua homenagem na Praça da Alfândega, no centro da ilha.
Desta vez, em Florianópolis, foi diferente. Quando era pequena, costumava passar as férias lá, com meu pai e irmãos. Um dos programas que nunca faltava no roteiro era visitar a avenida que fica na frente da Lagoa da Conceição e comprar rendas. Eu, na verdade, não gostava muito do passeio, não achava dos mais adequados para minha idade e preferia ficar à beira mar. A cidade era famosa pelas rendas de Bilro, tendo inclusive um monumento em sua homenagem na Praça da Alfândega, no centro da ilha.
Monumento em homenagem a Renda de Bilro no centro de Florianópolis |
E de volta a Florianópolis quase 15 anos depois, com o meu pai, esse programa não poderia faltar. Já tinha sentido a cidade diferente, uma rua asfaltada onde só havia terra batida, um condomínio fechado no lugar da mata. Mas a surpresa maior nos aguardava com as rendeiras. Ou, na sua ausência. A primeira tentativa foi frustrada: não encontramos nenhuma. Mas antigamente a rua era repleta delas, e elas deveriam estar em algum lugar! Não desistimos e perguntamos. “As rendeiras? Estão lá, na beira da lagoa!” E assim voltamos à lagoa, pensamos que com todo o progresso as rendas estariam em um complexo comercial, com várias lojinhas e praça de alimentação. Grande engano. Com muito esforço vimos uma lojinha e logo outra, um pouco mais a frente mais uma. “Estamos chegando perto” E depois de percorrer toda a avenida percebemos que era isso: as rendeiras se resumiam a três lojinhas. Com um aperto no coração, paramos o carro e descemos. Enquanto eu passava em frente á loja com os olhos perdidos, escutei:
- Pode olhar enquanto tem tempo. – dizia a senhora com os olhos atentos a renda que tecia.
- Hein?
- Pode olhar, que a renda está acabando.
- Ah! Já está acabando? Que ótimo…
- Não, o que está acabando é a renda…
- Nossa, é mesmo? Que horror… – eu não estava preparada para uma conversa…
- Pode olhar enquanto tem tempo. – dizia a senhora com os olhos atentos a renda que tecia.
- Hein?
- Pode olhar, que a renda está acabando.
- Ah! Já está acabando? Que ótimo…
- Não, o que está acabando é a renda…
- Nossa, é mesmo? Que horror… – eu não estava preparada para uma conversa…
Dona Norma é uma das poucas rendeiras que ainda resistem na avenida que já foi repleta delas e que ainda leva esse nome. |
Mas ela era ainda mais ágil que suas mãos e enquanto falava entrou na loja e começou:
- Esse é 20, esse é 30, esse também é 20.
- Mas por que as rendas estão acabando?
- As velhas estão morrendo e as moças novas não querem aprender o ofício.
- Puxa, que triste, é um trabalho tão bonito.
- É mesmo, eu levo uma semana para fazer uma toalha dessas. Custa 20 reais.
Cedi.
- 20?
- É, quem não mostra, não vende…
E então eu me rendi às rendas e comprei três toalhas “para servir café”. Mesmo sabendo que não tenho bandeja.
Um comentário:
Mudam as pessoas, as coisas, enfim o tempo faz a vida mudar. o que importa, no entanto, é viver.
mas como dizia Guimaraes Rosa " viver é perigoso"
Postar um comentário