sexta-feira, 17 de junho de 2011

Pitágoras e o primeiro beijo

Quando estava na escola, nunca imaginei ser professora. Mas um amigo um dia me pediu para substituí-lo na escola em que trabalhava. Ele iria participar de um Congresso por três dias. O plano parecia ótimo, eu ganharia uma grana e o trabalho era fácil: cuidar dos alunos enquanto eles faziam uma lista de exercícios. O que poderia dar errado?
Nada. E de fato, não deu. O que veio depois é que mudou a minha vida. Acabei ficando mais na escola, para substituir a professora de geometria do fundamental que tinha sofrido um acidente.

Em uma aula de teorema de Pitagoras,  quando eu já estava um pouco mais a vontade com a escola, com a classe e com os alunos  uma aluna pediu para ir ao banheiro. Claro, pode ir. O que eu não sabia, e só eu não sabia isso, é que aquele era o horário do intervalo do primeiro colegial. E que a tal menina queria encontrar um garoto para o primeiro beijo. Bem na minha aula. Quando ela voltou para a classe, era tanta felicidade que ela olhava através de mim. Não me via, não via o Pitágoras e nem a melhor amiga ansiosa por comentários. Sentou e abriu o caderno com um sorriso no rosto.

E foi nesse dia, com teorema de Pitágoras e primeiros beijos que eu resolvi ser professora. Porque nesse dia eu percebi que a gente pode se surpreender com as pequenas felicidades e surpresas do dia a dia. Porque nesse dia eu entendi que ser professora é lidar com gente e gente se emociona, encanta, se diverte.


Mas o cotidiano também nos engole. E a gente pega a Rebouças parada, acumula coisas para corrigir, se irrita, briga com colegas, atrasa material, toma bronca. E de repente não se lembra mais porque escolheu fazer aquilo. E então você resolve esquecer a gripe, a pilha de provas para corrigir, o trânsito e até o eclipse, para assistir a peça dos seus alunos na quarta-feira à noite. Se emociona ao vê-los no palco. São os seus alunos, de todos os dias, aqueles mesmos que não fazem lição, que conversam nas aulas, que detestam física. Que agora estão lá, são maridos traídos, sargentos, assassinos, leram Sheakspere.
Você reconhece alguns e é apresentada a outros. E se lembra porque adora ser professora.

8 comentários:

@LuMetal disse...

Lindo!

Acredito muito que a " gente pode se surpreender com as pequenas felicidades e surpresas do dia a dia".
E se a gente prestar atenção tem muito mais de pequenas surpresas pra fazer a gente feliz!!

Renatinha disse...

Aninha sempre emociona quando escreve... continue escrevendo sempre, querida.

analu disse...

Brigada, Re!

É verdade, Luci. E os amigos ajudam muito nas pequenas surpresas...
Beijo!

Célia disse...

Obrigada, AnaLu! Estava precisando, mesmo, de uma "cutucada" pra sair da "boca do cotidiano"! Valeu, minha querida! Beijão e ca.rinho.

Anônimo disse...

uma belezinha........

Anita Ayres disse...

E tem professora mais fofa? Que orgulho de ter sido sua aluna...

Anônimo disse...

deu orgulho de ser sua aluna (:

analu disse...

Ser professora é fácil, com alunas tão queridas!
Que saudades de você Anita! Passe na escola qualquer dia...

Um beijo.