sexta-feira, 31 de outubro de 2008

A primeira noite fora de casa

- Mãe, vamos passar em casa antes de ir à feira?
- Mas você não queria trabalhar no mestrado? Assim vai demorar muito.
- É que eu dormi aqui e eu queria ver se está tudo bem com o aquário.
- Acho que eu descobri porque eu não queria que você tivesse peixes.
- Para eu não viver numa bolha?

E quem não vive?

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Um poliqueta entre nós.

Como se podia esperar, o aquário foi a atração inicial da festa (depois tiveram outras, que não cabem nesse espaço...). Todo mundo que chegava tinha que olhar. Ou por vontade própria, ou por insistência minha. Mas as pessoas se divertiam. Eu estava animada com a possibilidade dos primeiros amigos biólogos olharem o aquário. Tudo bem, ainda não tem muita coisa para ver, mas cada pedacinho de vida tinha sua parcela de carisma. Enfim, a Fê chegou, e logo começou um interrogatório sobre o que seria cada coisinha que apresentasse o menor dos movimentos. O que é isso? E isso? E aquele?

- E esse aqui, ó? O que é?
- Um poliqueta. – era mais um tubinho com uns cabelinhos brancos para fora.
- Mas, o que é isso? – eu já estava me preparando para desistir dos peixes e passar a criar pragas.
- É um bicho que vive dentro de um tubo – tá bom, eu assumo que essa parte é uma reconstrução do diálogo com a Fernanda, eu não lembro bem qual a definição...
- Fê, e poliqueta é do bem?
- É, é do bem sim.


Ufa.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Começar de novo

Uma madrugada lavando pedrinhas.
Quatro horas escolhendo o melhor lugar para colocar cada rocha.Várias leituras sobre pH, amônia, nitritos e nitratos.

E duas semanas para perceber que a bomba não estava funcionando e ter que começar tudo de novo...


Lembram das pragas? Bom seria se aquilo fosse só uma metáfora.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O primeiro pesadelo

Esta noite tive meu primeiro pesadelo com o aquário. Sonhei que nascia uma cobra horrorosa dentro dele e que ficava me encarando. Eu não sabia o que fazer, morria de medo de chegar perto e resolvia “dormir”. Ao “acordar”, a cobra tinha se transformado em algumas carpas, mas nem por isso menos assustadoras.

Cadê o Sr. Freud numa hora dessas?

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O que você pode aprender sobre sua familia ao escrever um blog


Recebi meu primeiro comentário no blog. Foi um momento de animação que durou pouco. Era uma crítica. Fiquei em dúvida se devia apagar a mensagem. Desanimador esse começo com tão pouca receptividade. Foi, de novo, minha mãe que insistiu: “você escreve algo público e não sabe aceitar críticas?” Ela tinha razão, mas a minha obsessão não permitia pensar em outra coisa. O blog existia há tão pouco tempo que parecia difícil eu ter algum leitor, quanto mais alguém que me criticasse. “E se for o seu pai?” Ah! Sempre ela, sempre com razão...
- Pai, você deixou um recado no blog?
- Eeeeeu?
- É, pai, um recado.
- Eu não me chamo anônimo...
- Mas, pai, planta é ser vivo.
- Ops. Eu acho que a pessoa quis dizer animal...

domingo, 19 de outubro de 2008

Antes dos peixes, as pragas

No meu aquário ainda meio sem vida apareceram dois novos seres. Fiquei emocionada. Fui até a loja, contar a novidade para o atendente:

- Nossa, já tem tanta coisa lá! Apareceram até umas plantas!
- Plantas?
- É, que parecem um tubinho com uns cabelinhos... Assim ó (e tentava, com as mãos e um sorriso do rosto, descrever para o moço que me olhava com pena).
- Tentáculos?
- Isso mesmo!!! – como não tinha pensado nisso antes? Tentáculos, claro. E fiquei ainda mais animada.
- Ihhh. É uma praga. Você pode pegar uma agulha e injetar um remédio que mata ela rapidinho.

Eu nem coloquei os peixes ainda e já vieram as pragas.
O aquário é o reflexo da minha vida.

sábado, 18 de outubro de 2008

Geração espontânea

Este texto é para o meu professor de biologia da sétima série. Foi ele que me fez acreditar que não se pode gerar vida do nada. Não lembro bem quais eram os argumentos, mas acho que tinha algo como uma experiência com fungos e bolor. Só sei que fui absolutamente convencida de que a vida não surgia assim, de repente. Mas...

Chegou o aquário. O que gerou muita excitação e uma angústia: 40 dias antes do primeiro peixe. O que vou fazer com isso sem peixes? Toda a minha ansiedade se manifestou imediatamente: não vou agüentar a espera. Mesmo assim, lavei todo o cascalho (bem, a Cris ajudou bastante nessa parte...), coloquei as pedras e a água.

Releiam o texto: cascalho, pedras e água. Tudo inanimado, sem graça. E eu ficava sentada na frente do aquário esperando, esperando, esperando. Esperando o dia do peixe chegar. No meio dessa espera: opa! Algo se mexeu! Era a água? Não, era uma minúscula conchinha andando pelo aquário. Comecei a perceber que ela não estava sozinha.

No sábado já tínhamos, dois caramujos, uma estrelinha do mar e meia. E foi assim que eu quase deixei de acreditar no meu professor de biologia.

Marinheira de primeira viagem

Fiz trinta anos. Tá bom, ninguém aguenta mais ouvir isso, mas não tinha forma melhor de começar este texto.

Porque a história começou lá atrás, quando eu ainda tinha 8. Tivemos um aquário e nossos peixes aventureiros pulavam para o centro da sala. E morriam, claro. Essa experiência foi bastante traumática, não para mim, mas para minha mãe, que nunca mais me deixou ter um aquário...

Até hoje.

Foram anos de tentativas frustradas. Mãe, vamos ter um aquário? E logo vinha ela com mais uma coleção de peixinhos de plástico. "Olhe, estes, Analu, tão bonitinhos." Alguns meses depois, e agora, mãe, vamos tentar de novo? E ela com mais uma idéia brilhante: "Analu, estes são de vidro! E até bóiam".

E isso se repetiu por anos. Até o meu aniversário de trinta anos. Quando, enfim, eu ganhei um aquário. E eu que achava que a históra teria terminado ali, quando consegui o que queria, estava totalmente enganada.