Outro dia, voltando de umas cervejas com a Lu. Cada vez mais paranóica com a violência da cidade: vidros fechados, pé no acelerador...
- Não tenho nada...
- Mas abre o vidro um pouquinho? Só para conversar. - conversar, conversar...
Geralmente eu não abriria, mas sei lá, ando meio emotiva ultimamente... Abri. Antes que eu terminasse a fresta de 3 cm já pensava: "se esse cara me assaltar, eu vou me sentir a pessoa mais estúpida do planeta". Não foi nada disso.
- Olha moça, como as pessoas são mal educadas por aqui, não? Ninguem respeita mais ninguém.
Sorri. Amarelo. Na dúvida se fazia parte "daquelas pessoas por ali". Fazia, não?
- Então, sou soropositivo, não tenho emprego... Bla, bla, bla... uma moeda?
Achei um troco que estava no console do carro. Entreguei. E ele me deu um folheto de divulgação das atividades do Sesc. Agradeci, obrigada.
- E você tá achando que eu vou fazer a linha pedinte?! Pedinte , não! Divulgador cultural!!! Leve esse folheto.
Agradeci mais uma vez.
terça-feira, 21 de abril de 2009
segunda-feira, 13 de abril de 2009
Maldita terra da garoa
Não quero mais morar em São Paulo. Agora mesmo fui ao banco. Quando saí de casa caia aquela chuvinha fina, que não incomoda, e é até agradável...
Mas, paulistana que sou, sai de casa correndo. Correndo para ir ao banco, tarefa que eu detesto e que me deixa aflita por antecipação. Tenho fobia das possibilidades de violência que essa cidade oferece.
Fujo do banco sempre que posso. E hoje, mais uma vez, saí de casa correndo. Quase não notei a presença do cego. Mas ele me percebeu.
- Me ajuda a atravessar a rua?
Parei, éramos eu e ele na calçada. Só podia estar falando comigo. Gelei. todos os noticiários da TV passaram na minha cabeça. É isso que acontece quando você tem fobia de alguma coisa: não pensa direito. E eu pensei na TV. E antes que esboçasse qualquer reação o cego já tinha grudado no meu braço.
- Me ajuda a atravessar a rua?
Pensei em dizer que ainda estávamos no meio do quarteirão, que ele não precisava segurar no meu braço com tanta força. Mas já era tarde. E na minha cabeça começava. Assalto. Batedor de carteira. E o cego andava.
- Você mora por aqui?
PCC. Sequestro relâmpago.
- Mora em prédio, é? Tem bastante prédio nessa região...
Roubo de órgãos. Estupro. Por que eu não conseguia mentir para ele? Ele continuava com as perguntas. E a esquina não chegava nunca. Chegou. Atravessamos.
- Para onde o senhor vai?
- Para a Cardoso. E você?
- Para a Turiassu. - menti. Não conseguiria dizer que ia ao banco.
Ele agradeceu, mas ameaçou subir a rua ao meu lado.
- Não, a Cardoso é para lá.
E foi assim que eu o deixei. Abandonei o cego no meio da chuva porque tive medo dele.
Quando era ele que devia ter medo de mim.
Mas, paulistana que sou, sai de casa correndo. Correndo para ir ao banco, tarefa que eu detesto e que me deixa aflita por antecipação. Tenho fobia das possibilidades de violência que essa cidade oferece.
Fujo do banco sempre que posso. E hoje, mais uma vez, saí de casa correndo. Quase não notei a presença do cego. Mas ele me percebeu.
- Me ajuda a atravessar a rua?
Parei, éramos eu e ele na calçada. Só podia estar falando comigo. Gelei. todos os noticiários da TV passaram na minha cabeça. É isso que acontece quando você tem fobia de alguma coisa: não pensa direito. E eu pensei na TV. E antes que esboçasse qualquer reação o cego já tinha grudado no meu braço.
- Me ajuda a atravessar a rua?
Pensei em dizer que ainda estávamos no meio do quarteirão, que ele não precisava segurar no meu braço com tanta força. Mas já era tarde. E na minha cabeça começava. Assalto. Batedor de carteira. E o cego andava.
- Você mora por aqui?
PCC. Sequestro relâmpago.
- Mora em prédio, é? Tem bastante prédio nessa região...
Roubo de órgãos. Estupro. Por que eu não conseguia mentir para ele? Ele continuava com as perguntas. E a esquina não chegava nunca. Chegou. Atravessamos.
- Para onde o senhor vai?
- Para a Cardoso. E você?
- Para a Turiassu. - menti. Não conseguiria dizer que ia ao banco.
Ele agradeceu, mas ameaçou subir a rua ao meu lado.
- Não, a Cardoso é para lá.
E foi assim que eu o deixei. Abandonei o cego no meio da chuva porque tive medo dele.
Quando era ele que devia ter medo de mim.
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