sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Antes que os céus caiam sobre nossas cabeças

Foram 12 dias de viagem sem nenhum acontecimento extravagante. Quer dizer, eu tinha escolhido entender os dois sapatos destruidos apenas como "coincidência"... Mas, ultimamente os céus têm me mandado avisos. E eu não deveria ter ignorado este: nínguem deve sair de casa sem sapatos.

E depois de combustível errado em Portugal, briga no aeroporto em Madri, correr atrás de ladrão em Genebra, levar murro de argentina, 2011 seria só uma prévia. O melhor ainda estava por vir. E a viagem para a Itália não seria monótona...

Chegamos em Campobasso, que fica na região de Molise, meio centro-sul da Itália. Tudo certo para irmos até a cidade da vó, Colle d'anchisce. Gps a postos e muitos casacos porque fazia frio, frio, muito frio.

Eram 16 km até a cidadezinha da vó, que fica no alto de uma montanha. A temperatura caia a cada quilômetro, 11°C, 7°C. 3°C, chegamos. O lugar era lindo! 1°C.

Acabou? Era isso? Vamos voltar? É por essa estrada mesmo? O gps está certo?

Continuamos um pouco e a estrada começou a ficar um pouco sinistra. Mais sinistra. P-a-v-o-r-o-s-a. Era impossível fazer retorno: barranco de um lado e despenhadeiro do outro.

Então começou a chover. Mas estava frio, frio, muito frio. Peraí. Aquilo não era chuva: ESTAVA NEVANDO! Ok. Sem pânico. O gps ainda estava funcionando. Até que veio aquela maldita voz: “assim que possivel faça retorno". COMO?! Ela não estava vendo que era impossível fazer retorno? Ela viu. E de repente éramos um pontinho num mapa amarelo sem estrada. Estávamos no meio do nada. No frio, na neve, no despenhadeiro sem mapa nem gps, nem nada tinha na estrada. Agora sim: vamos morrer.

Como não tínhamos opção, seguimos, buraco por buraco até chegar na estrada. Pelo menos a neve tinha parado.

Ufa! Estávamos salvos! Mas... Era isso mesmo? O pneu estava furado. Encosta. Desce, tira o macaco, o estepe, chave de boca, chave de roda e... começa nevar de novo...

Foi assim que eu vi nevar pela primeira vez. E mesmo com a mão cheia de graxa, no meio de uma estrada perdida pela Itália não foi possível não me emocionar.
Em cinco minutos estava tudo branco...