quarta-feira, 22 de julho de 2009

Hermética

Caí. E fiquei estatelada no chão. Ao me levantar, sozinha, alguém perguntou:

- Se machucou?
- Não... – respondi – só a auto-estima.

E ninguém entendeu minha piada...

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Dos oito aos oitenta

Semana passada eu precisei dos meus diplomas. Sim, no plural, eram os diplomas desde o 1o grau. E faz tempo que eu terminei a 8a série. Naquela época ela ainda se chamava 8a série e o 1o grau, 1o grau... Impossível achar essas coisas na minha casa. Fiz um telefonema, mais irritada do que esperançosa:

- Mãe, preciso do meu diploma da 8a série - falei como quem diz um absurdo, esperando que ela me apoiasse e dissesse: "mas por que raios precisam do seu diploma da 8a série?". Enganei-me.
- Claro! Pode vir buscá-lo. Está aqui junto com os outros. - Outros?!

Pois é, outro dia me disseram "mãe é mãe" e a minha não foge à regra: tinha uma pasta com todos os meus "diplomas", que incluia atestato de batismo (!), certificados e todos os meus boletins da época da escola!! Só mesmo a minha mãe para guardar essas coisas. E eu ainda nem mencionei as constrangedoras fotos-anuais-deuniforme. Porque o que me interessou foram os boletins.

Estudei em uma escola em que, além da avaliação da professora, todos os bimestres fazíamos também uma auto-avaliação do nosso trabalho, das dificuldades, dos aprendizados... Enfim, para que não houvesse dúvidas estava lá em todos os bimestres: "tenho dificuldade em português, ainda confundo o b pelo d e o t pelo v", e outra confissão: "aprendi matemática, só não consigo acertar o resultado das contas". E-x-a-t-a-m-e-n-t-e isso. No meu boletim da 2a série, para que todos possam ler. E como eu me descreveria hoje? "Tenho dificuldade em porvuguês, ainda confunbo o b pelo d e o t pelo v, mas aprenbi mavemática, só não consigo acertar o resulabo das convas".

Sempre achei que tivesse dislexia, mas na verdade eu tenho maturidade intelectual de uma criança de oito anos!

Bom seria se a minha viagem ao auto-conhecimento tivesse parado por aí... Nessas férias eu e minha mãe recuperamos o "projeto caminhada" e voltamos a andar pelo bairro. Descobrimos uma praça nova nas redondezas e nos jogamos nos aparelhos de ginástica. Eram uns aparelinhos divertidos, que fazem parte de uma "academia para a 3a idade". Ficamos por lá alguns minutos apenas e qual foi o resultado? Meu corpo inteiro dói. INTEIRO. Ou seja, fui reprovada de novo...

Sempre achei que eu tivesse uma descordenação charmosa, mas na verdade meu corpo não consegue acompanhar nem exercícios para a 3a idade!

Em resumo, sou uma mulher de trinta anos que pensa como se tivesse oito em um corpo de uma senhora de oitenta. O que sobrou para mim?

terça-feira, 7 de julho de 2009

Banida do sebo

Estava com a minha mãe. Olha, abriu o sebo de novo, será que tem o livro que eu to procurando?

- Não, Ana Luiza, a gente sempre vai lá e o dono é meio esquisito.
- Deixa mãe, vai ver mudou de dono.

Insisto.

- Oi, eu estou procurando um livro. Sobre divulgação científica, você tem alguma coisa de jornalismo?
- Jornalismo ou divulgação científica?
- É a mesma coisa - preferi não entrar no mérito.
- E existe publicação nessa área?
- Algumas.

Entra um garoto. "Não, isso não está a venda". O garoto, meio sem graça, pergunta: tem alguma coisa sobre massagem? "Um monte". Qual o título?" Não sei. "Então volte quando souber!" E começou a resmungar com o menino. Virou-se para mim:

- Qual o título?

Tremi. E se eu errasse? Mas essa eu sabia! "Divulgação científica". Ele liga o computador.

- Autor?
- Isaac Epstein. - E se ele me pedisse para soletrar?! me adiantei - é da editora Pontes. Assim eu ganharia um tempo.

- Esse livro está esgotado há muito tempo.

Era a minha deixa. Tá bom, obrigada.

- Não, agora que eu já liguei o computador, deixa eu terminar.
- Er, mas, você não tem o livro AQUI?
- Estou procurando. - e não tirava os olhos da tela. - Achei. R$39, demora dez dias.
- Não, obrigada, mas eu esperava que você tivesse o livro - afinal, aquilo era um sebo, não? Para encomendar da livraria eu podia fazer de casa...
- Mas você é um atraso de vida! E trate de não aparecer mais por aqui!

Por não ouvir a minha mãe, fui banida do sebo...