quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Jade e Jorge

Quando eu entrei na academia "só para conhecer" e vi que era ela quem iria me atender quase-quase fui embora. Jade é dessas meninas que de tão bonitas ficamos com raiva, principalmente quando estamos com a auto-estima reduzida a ponto de procurar uma academia.
Não desisti e ela me convenceu, parecia que me conhecia e sabia o que eu queria ouvir. Depois disso, passou a me ligar quando eu faltava na ginástica e quando que eu ia, conversávamos. Ela sabia o que eu gostava, perguntava do meu trabalho e contava um pouco da sua vida também, que tinha entrado na faculdade… Eu sabia que esse era o trabalho dela, mas não ligava. Gostava disso, na verdade. Um dia, cheguei na ginástica e ela não trabalhava mais lá. Tinha ido embora assim, sem dizer nada. Me senti um pouco traída e meio abandonada. Como eu faria agora sem ela? Quem iria me ligar?

Jorge é o frentista do posto onde eu abasteço o carro. Ou abastecia. Eu detesto colocar combustível, então adio essa tarefa até não poder mais, o que quase sempre acaba em uma 5ª feira e então eu abasteço sempre no mesmo posto. E o Jorge sabe disso. E sabe que eu não verifico o óleo e nem calibro os pneus. Então, quando eu vou lá ele faz tudo por mim. E eu sei que esse é o trabalho dele, mas ele me chama de professora e falamos de futebol. Eu nunca lembro se ele é palmeirense ou corintiano, mas ele sabe que eu sou são paulina. Mas hoje, ao abastecer, percebi que a bandeira do posto tinha mudado.
- Calma, Jorge, não enche não. O que aconteceu com o posto?
- Mudou, a Petrobrás comprou a rede.
- E agora, o que vai acontecer com o posto?
- Nada… fica tudo igual…
- E o preço da gasolina? – devo confessar que esse foi o fator que colocou Jorge na minha vida: o posto era o mais barato no caminho da escola.
- É, parece que vai aumentar… Mas a qualidade é outra, de confiança… - ele disse olhando para o chão. Nem ele acreditava no que dizíamos. Trocamos algumas palavras sobre o futuro, os empregos, os patrões e empresários. E quando eu estava indo embora, ele disse:
- Não deixa de vir aqui não, a gasolina é de confiança.
- Ok, vou tentar. – ambos sabíamos que  eu estava mentindo. Eu vou acabar num posto na Francisco Morato, que ainda não foi incorporado. E essa foi a nossa despedida.

Jade e Jorge eram duas pessoas que faziam parte da minha vida sem saber. Porque existem pessoas que conseguem ser assim. Encontrar com eles durante a semana fazia a minha semana mais agradável. Porque eles eram gentis e sorriam, mesmo que o dias deles não estivesse sendo bom. E eles saíram da minha vida da mesma forma que entraram: de repente. Agora, sem eles, quem vai me lembrar da pessoa que eu deveria ser?

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O outro lado da lua

Adorava Astronomia quando era criança e tinha a certeza absoluta, no auge dos meus doze anos, que seria astrônoma. Foi a Astronomia que me levou a Física, e no meio de tantas outras escolhas, ela acabou ficando de lado. Colecionava artigos de jornal e lia tudo que caia nas minhas mãos. E, em uma aula de ciências da 5a série, a professora diz:
- A lua só mostra uma face para a Terra.
Se eu pudesse escolher "frases que mudaram a vida" certamente essa seria uma delas. Eu achei aquilo tão incrível que não podia acreditar. E perguntei:
- Como?!
E foi então que o meu mundo caiu, a professora respondeu:
- A lua só mostra uma face para a Terra. Por isso dizemos a face oculta da lua.
- Mas a lua não gira?
- Gira.
- Então... Como pode?
A coitada da professora não estava preparada para aquela pergunta. Ela tinha decorado o roteiro direitinho: nove planetas (ops...), sabia a diferença entre translação e rotação, mas aquela pergunta ela não sabia a resposta. Claramente ficou incomodada com a minha insistência. Foi salva pelo sinal, mas sabia que não tinha acabado. Na semana seguinte, antes que eu dissesse qualquer coisa, ela me procurou:
- Perguntei para o professor de física do colegial que me explicou: é uma questão de segundos.
Eu realmente não sei se aquele papo de "professor de física" era para me assustar, ou me convencer. Mas sei que só piorou a conversar:
- Segundos?!!! Mas COMO?!
A minha relação com a professora de ciências da 5a série acabou logo ali. Ela não sabia a resposta e não devia ter entendido a explicação do "professor de física do colegial". E tinha sido formada para responder tudo e não sabia lidar com as perguntas que não tinha resposta. E disse:
- É uma questão de segundos e pronto. Agora vamos abrir o caderno e estudar o ciclo da água.

Puxa, na 5a série eu achava que não poderia aprender mais nada com ela. E da mesma forma que não sou astrônoma, estava enganada. Acho que todas as vezes que eu entro em sala, me lembro daquela aula. Ela me ensinou que podemos reconhecer nossas limitações. Ensinou que um bom professor não necessariamente sabe todas as respostas. E que a frase preferida de todos os estudantes é "por que?" E cada vez que algum aluno me pergunta: "mas como?" respiro fundo e penso naquela professora. Mesmo que a resposta esteja na ponta da língua.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A nossa Universidade


Todos os dias preparo meus alunos para entrar na Universidade. Hoje, fui preparar a Universidade que quero para os meus alunos.

Estava afastada do movimento estudantil desde que defendi o mestrado. Deixei um ME  fragmentado e desarticulado. E passei acompanhar as coisas de longe, e infelizmente, a maior parte das informações vinham da  grande imprensa. E assim, de longe, parecia plausível aquela história que me contavam todos os dias nos jornais. Mas, terça feira, até isso deixou de fazer sentido.

Já está na hora das pessoas perceberem que ser contra a polícia militar na campus não significa ser contra segurança ou por interesses pessoais. Sou contra a polícia militar na USP porque sou contra políticas públicas que criminalizem as nossas ações sem discuti-las. O governo do estado já fez isso com o cigarro, que deveria ser tratado como questão de saúde pública mas foi criminalizado. E hoje não fumamos nos bares, e quase não reclamamos desse fato. Há, inclusive, os que apóiam. E agora está fazendo novamente. Polícia não é sinônimo de segurança. A Universidade precisa de um plano de segurança publica que repense a sua ocupação, seus espaços, seus acessos. A gente se acostuma com tudo e tenho certeza que se acostumaria com a polícia no campus e logo deixaria de pensar o que isso significa. Um dia, um amigo contou que na sala de professores de sua escola outro professor dizia que a solução para a educação no Brasil seria colocar um policial em cada canto da sala de aula, assim, cada vez que algum aluno não se comportasse, tomaria tiro. E ele não estava brincando. “Assim eles saberiam como se comportar”. E faltaria pouco para alguém dizer que ofender funcionário público é crime e isso seria um pulo para defender que aluno mau criado fosse para a cadeia. "Só para aprender a se comportar".

Não. Definitivamente não é essa sociedade que quero. Não é para essa sociedade que formo todos os meus alunos.  E a Universidade faz parte da sociedade.

Assembléia de estudantes da USP no salão nobre da faculdade São Francisco.
Hoje, na assembléia de estudantes na São Francisco encontrei um movimento estudantil articulado e respeitoso. As pessoas se ouviam. Não se falava de maconha, mas de projetos de Universidade. É uma pena que 73 pessoas precisaram ser presas para que pudéssemos colocar em pauta questões que há muito tempo deveriam ser amplamente discutidas. Porque a defesa da Universidade que queremos - pública, segura e para todos – não deve ser uma luta só de estudantes, mas de toda a sociedade. 

domingo, 6 de novembro de 2011

Caras e bocas

Um dia eu me apaixonei por um moço. E como em toda paixão, nos deixamos levar pelos encantos e fazemos coisas que não faríamos caso estivéssemos sob controle de nossas faculdades mentais. E assim fui parar em um Mc Donalds de shopping em um domingo ensolarado. E para mim, tudo estava bem porque eu estava com o moço. Também como em toda história de amor, o moço já tivera outras moças e eu não me sentia muito a vontade com algumas... Entre o Big Mac e a coca cola eis que ele solta:
- A fulana entende emotions.
- Hein?
- É, aquelas carinhas... Eu escrevi uma hoje no email e você não respondeu.
- Hein?

Ok, eu deveria ter entendido aquilo na hora: estávamos com problema de comunicação. E não era por causa da ausência de sorrisos eletrônicos. Eu quis responder, dizer que eu tinha me formado em física e em jornalismo, que trabalhava em uma revista, que sabia programar em C e que portanto, não precisava de carinhas de computador. Quis completar dizendo que eu passei a adolescência com amigos reais, cervejas e festas reais e que por isso não, não usava o Icq. Mas se depois de seis meses de namoro ele ainda não tinha percebido nada daquilo, minhas palavras não serviriam... Então só fiquei olhando para o moço e não fui capaz de me defender. Fui para casa triste. Naquele dia não liguei para o shopping, a fila do cinema ou a quantidade de sódio na minha comida. Mas cheguei em casa me sentindo a pessoa menos querida do mundo.

Como era de se esperar, alguns Mc Donalds depois, troquei o moço por outro, que gostava dos meus erros de português. Preferia meu rascunho, do que a versão editada e corrigida, dizia.

Essa semana ao ler essa notícia no jornal, me senti, de certa forma, vingada. A folha republicou uma notícia do Times que discute a utilização dos emoticons principalmente entre os ambientes formais e qual os possíveis impactos na linguagem. Gostei, especialmente, de uma coordenadora de escola de Manhathan, Michele Farinet:


"Para mim, é como um filme malfeito em que, logo que o pai agarra o cachorrinho, a câmera imediatamente focaliza a expressão lastimosa do filho - como se o diretor não acreditasse que o espectador fosse capaz de sentir por si próprio uma emoção condizente com a cena", afirmou Farinet por e-mail. "É isso que os emoticons fazem. Por favor, não me 'mostre' que eu deveria estar com uma cara alegre ou triste ou que você está com uma cara triste ou alegre. 
Você seria capaz de imaginar a leitura do final de 'O Grande Gatsby' dessa forma? 'Então partimos, barcos contra a corrente, levados incessantemente de volta para o passado :-('"

E agora, José? Vai lá, defender as carinha de computador.

Hoje eu troquei os erros de português por notas musicais, e levo a vida cantando. Ainda que desafinada.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Menos suítes, menos fluoxetina.

Cada vez que recebo uma propaganda de um novo-edifício-super-luxo-100m2-quatro-suítes fico mais triste. Além de me perguntar o que tanto os milhares de estudantes de arquitetura fazem em suas universidades.

Hoje, a Folha de S. Paulo publicou uma notícia de que a Barra Funda vai se urbanizar, e "se transformar em uma nova Perdizes". O jornal escreve isso e não faz nenhuma reflexão sobre o que significa isso. Para que mora em Perdizes pode dizer o que a verticalização fez com o bairro: trânsito, barulho e poluição.
fonte:http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1000850-regiao-da-barra-funda-em-sp-ganhara-16-km-de-vias.shtml

Eu sei que não sou a primeira, e infelizmente, nem a última pessoa a pensar sobre isso. Esse tema já foi discutido em vários locais e por várias pessoas. Aliás - pausa para o Merchandising - assistam o filme Medianeras, que já passou por esse blog e trata dessa questão de forma belíssima. Também não sou a melhor pessoa para falar disso, já que sou professora e entendo muito pouco de arquitetura. Mas eu entendo um pouco de pessoas. E sei que a convivência é fundamental.

O dinheiro para as obras de restruturação do bairro viria das grandes obras. Porque na Nova Barra Funda, quem quiser construir acima do permitido basta pagar uma taxa à prefeitura... Hein?! As vezes eu me sinto em um filme de ficção em que não entendo as regras direito.

A construção desses megaprédios corrobora a lógica do individualismo. Cada um no seu quarto, com seu banheiro, seu computador. Quem dividiu banheiro com a irmã, sabe do transtorno que pode ser a hora de ir para a escola todas juntos, mas a delicia que é se arrumar para a festa dividindo o mesmo espelho. Eu sei que pode parecer um pensamento infantil, mas se as pessoas convivessem mais, seriam mais felizes e menos deprimidas. E agora as pessoas deixam de conviver em suas próprias casas, com suas famílias. Tenho medo de onde isso pode acabar.
E quem precisa de salas ou janelas?

Mas essa reportagem levanta outra questão. A gestão da Marta Suplicy tinha outro projeto para a urbanização da Barra Funda, que em uma busca rápida pelo google, re-encontrei em uma reportagem do Uol de 2006. E então, má vontade ou mau jornalismo? Por que para mim é muito estranho um repórter não fazer uma busca, que eu fiz em 0,30 segundos. Talvez porque encontraria a reportagem do concorrente, um pouco mais completa, que já avisava das mudanças do bairro em 2010 e não "esqueceu" o projeto da antiga prefeitura.

Por isso a partir de hoje eu lanço a campanha: menos suites, menos fluoxetinas. Para que possamos discutir e construir a cidade que queremos.



domingo, 30 de outubro de 2011

Bzzz bzzz


Matei o pernilongo que não me deixava dormir.
Mas quando vi o sangue na parede, não soube dizer se fiquei com mais pena dele, ou de mim.

E passei a noite acordada.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Mi buenos aires querido...


Eu poderia escrever um texto dizendo que choveu nos dois primeiros dias e que nessa cidade não há nada para fazer em dias de chuva.
Poderia escrever dizendo que eu apanhei da rua de uma desconhecida, sem que eu fizesse nada. "Antes que nos matem a todos", ela se justificou. Ou poderia dizer que um cachorro correu atras de mim, e quem me conhece pode imaginar o que isso significou... Ah! Poderia dar uma aula de geografia, depois de esperar horas no aeroporto, entendo tudo sobre vulcões...

El caminito...
Também poderia escrever sobre amizade e como é bom (re)encontrar amigos. Fazer uma lista das pessoas legais que conheci. Ou divagar sobre como é legal perceber que podemos reconhecer uma identidade latinoamericana.

Mas resolvi fazer um texto-guia turistico e contar as coisas legais que fiz por aqui. Em uma cidade que pela quarta vez ainda suprende e encanta com as suas belezas. Nada como ter bons amigos para indicar programas gostosos...





Na telona

Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales (Incaa)

Não preciso escrever nada sobre cinema argentino. É bom. O Incaa tem uma série de salas de cinema que projetam filmes argentinos por bons preços. Um programa imperdível. Desta vez assisti dois: Medianera e La vida nueva. O primeiro é muito bom, o segundo, nem tanto.
http://espacios.incaa.gov.ar/


No bolso
El guia T
A primeira coisa a fazer ao chegar em BsAs é passar em uma banca de jornal e comprar este guia. Tem todas as ruas da cidade com as linhas de ônibus e metrô. É prático, barato (~6 pesos) fácil de usar e cabe no bolso. Mas não é um guia de viagem, o seja, não tem sugestões de passeios.
http://guiat.site88.net/

Câmbio
Não entendo muito bem disso, mas o que aprendi é que as cotações variam muito de uma casa de cambio para outra e vale dar uma pesquisada. Desta vez, a cotação melhor estava no Western Union (http://www.westernunion.com.ar)

Nas artes plásticas
Além do Malba, desta vez fui no Museo Xul Solar. Um museu do pintor argentino Oscar Agustín Alejandro Schulz Solari, Xul Solar As obras são lindas. O museu é bem pequeno mas a casa já vale uma visita, principalmente para quem gosta de arquitetura.
Recomendo a visita guiada, porque não tem muita informação. Ou então, apele para o google, mesmo, antes de ir.
Laprida 1214
http://www.xulsolar.org.ar/index.html


Nos livros
El ateneo da Santa Fé

Ok, a livraria que fica dentro de um antigo teatro é tão famosa que deveria ter feito parte da minha primeira visita. Ou da segunda. Mas, enfim... Se você for como eu e não conhece, faça. É super linda.
Av. Santa Fe; 1860
http://www.tematika.com/
PS: Outra dica importante. Assita o filme Medianeiras. Hoje. Mesmo que não tenha planos de vir para Buenos Aires. Um filme lindo sobre a relação das pessoas com a cidade. Mas se for visitar a livraria, repare nos prédios vizinhos e olhe para as "medianeiras"", quem sabe pode encontrar o que estava procurando.



E, claro, na gastronomia
Salgados Alimentos
Um restaurante fofo, agradável e com uma ótima comida. Comi uma milanesa, que dá para dividir. Mas o restaurante serve tambem massas e saladas. Um almoco para duas pessoas (milanesa, salada, suco e cafe 100 pesos). Não abre aos domingos e segunda feira fecha as 20h.
Fica na Juan Ramirez de Velascos com a Araoz.
http://www.salgadoalimentos.com.ar/


Bâraka
Modernoso e agradavel, com mesas ao ar livre. Um cardápio diferente, com "receitas de familia". Sucos e sobremesas incríveis. (almoco, sobremesa e suco para duas pessoas 160 pesos).
Gurruchaga 1450, em Palermo. Fechado as segundas.
http://www.barakarestaurant.com.ar/

domingo, 18 de setembro de 2011

Para minha irmã


São Paulo, 18 de setembro de 2011

Tchu,
Agora somos só você e eu. Claro, a gente tem ainda um monte de gente querida, por perto. Mas quando acaba o dia e a luz apaga (e eu durmo e você acorda…), somos somente você e eu.

E eu vou cuidar de você. Talvez devesse ter feito isso antes, ou mais vezes, mas não importa. Agora que comecei, não vou parar. Por mais que você esperneie, grite ou reclame.
Porque eu sou sua irmã mais velha e em todas as minhas lembranças você está lá. Por que você acha que chupa dedo? O que seriam das aulas de teatro sem “matei o rei, serei a besta”? Quem iria atropelar as praças da USP?

O que quero dizer é que gosto muito de você e que toda vez que achar que você está fazendo alguma coisa de errado, ou que não está fazendo o que deveria, vou me meter. T-O-D-A-S  A-S V-E-Z-E-S. Na maior parte das vezes você vai discordar, dizer que eu estou enganada e que não devo cuidar da sua vida. E, em algumas vezes, eu vou mesmo me enganar: sem ela é muito difícil saber o que é certo e o que é errado, não? Mas aviso: não vou parar. Por você, vou matar todos os reis e todas as bestas que estiverem no seu caminho. Porque você faz isso por mim desde que nasceu.

te amo,
analu


A minha irmã não é diferente de nenhuma irmã mais nova: insiste em não me obedecer escutar. Por isso escrevi essa carta para ela, quem sabe agora ela escuta. E assim, fica mais fácil de republicar, todas as vezes que ela esquecer que é a pessoa mais importante da minha vida.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Meia noite em Paris



Ela estava em Paris. Saíram com o restaurante fechando. O jantar tinha sido perfeito, mas já era perto da meia noite.

- Será que o metro fica aberto depois da meia-noite? - Ela andava depressa. Não queria se perder, mesmo em Paris. Olhou no mapa, a estação era perto, mas eles andaram mais do que imaginavam. As ruas estavam vazias, nem pareciam férias. Um velho que estava sentado no bar levantou e foi na direção deles.

- Vocês estão perdidos?
- Não. - ela respondeu e apertou o passo.
- Estamos procurando o metro - disse ele, com um sorriso no rosto. Por que ele tinha que ser sempre tão simpático? Eles achariam a estação sozinhos.
- É por ali. Eu vou com vocês. - mas, por que ele vai com a gente se estava sentado no bar, ela pensou.

Pronto era só o que faltava serem perseguidos por um velho na primeira noite em Paris. Olhou para ele com esperança que ele ouvisse suas angustias. Ele sorriu novamente.

- Vocês são americanos?
Ela não respondeu. O que os franceses tão tem com os americanos?
- Brasileiros. - só ele falava.
- Ah? E falam espanhol? - Pronto. Ainda encontraram um francês burro. Será que agora ele não poderia se despedir? A noite tinha sido tão boa...
- Não, português.
- Eu sei uma palavra em português: calhambeque, quer dizer carro velho. - porque aquele velho não ia embora?

E o velho foi falando até a estação. Perguntou onde eles desceriam, e ele respondeu, claro. A essa altura ela achava que ele convidaria o velho para um café. Os guichês estavam fechados e o velho os acompanhou até a máquina que vendia bilhetes. O filme se fez na cabeça dela como se fosse verdade: os comparsas chegariam e eles seriam assaltados. Sim, seriam assaltados, ela sabia. A máquina não funcionou. O velho deu dois bilhetes para ele. Definitivamente a noite não acabaria bem. Eles passaram e ele ficou esperando o velho. Será que agora eles não poderiam ir? O bilhete do velho não passou. E ele teve que pular a catraca. Pronto. Era agora. E o velho continuava andando com eles, quando chegaram na escada, disse:

- Eu vou por aqui. Vocês continuam. Boa viagem.



Eles tinham acabado de jantar. E tinha sido o melhor jantar de toda a sua vida. Ele só percebeu o tempo passar, quando ela perguntou:
- Será que o metro fica aberto depois da meia noite? - e olhou no mapa. Eles foram, ele nunca imaginou que se renderia aos encantos de Paris. Mas aquela hora, os carros, as pessoas, a lua, tudo parecia mágico. Mas ele sentia falta de sua mão, porque ela andava tão depressa? Não percebeu o velho levantar do bar.


- Vocês estão perdidos?
- Não. - ela respondeu.
- Estamos procurando o metro - disse ele. Todos se apaixonavam por ela. Ele sabia disso... Por que seria diferente com os franceses?
- É por ali. Eu vou com vocês.

Ele lembrou de todas as vezes que ouviu dizer que os franceses eram mal educados. Olhando para aquele velho não podia acreditar. Sorriu para ela, a noite não poderia ser melhor.


- Vocês são americanos?
- Brasileiros.
- Ah? E falam espanhol?
- Não, português.
- Eu sei uma palavra em português: calhambeque, quer dizer carro velho. -  Ele se divertia.


E eles foram até a estação. O velho perguntou onde eles desceriam, e ele respondeu. Os guichês estavam fechados o velho os acompanhou até a máquina que vendia bilhetes, que estava quebrada. Por um momento ele ficou sem saber o que fazer, mas o simpático velhinho deu dois bilhetes para ele. Ele não conseguia acreditar na sorte que tinham. O velhinho ainda teve que pular a catraca, pois ficou sem bilhete. Realmente os parisienses eram muito gentis. Era isso que ele iria contar para os amigos quando voltasse para o Brasil. Quando chegaram na escada, o velho disse:

- Eu vou por aqui. Vocês continuam. Boa viagem.


Ao sair do metro, garoava, e com os braços ao redor dela, eles estavam na mesma cidade. Porque Paris pede uma história de amor, ainda que inventada.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Para não dizer que não falei das flores...

Quem leu aqui, se lembra. No fundo está o Globo - universo das particulas - um museu que fica em frente ao Cern. Vale uma visita.


No meio do caminho...


domingo, 3 de julho de 2011

Em Frankfurt

Eu confesso ter medo de alemães. Pode ser preconceito histórico, ou outra coisa, mas a falta de vogais não os torna dos povos mais receptivos. Por isso, desde que eu soube que faria escala em Frankfurt fiquei apavorada.

No avião, eu ensaiava as respostas que daria ao guarda da imigração. Desta vez não poderia me equivocar, como da outra... Afinal, era a polícia alemã. “Vou fazer um curso em Genebra”. “Sim, tenho seguro de viagem. Não sou idiota. Claro” “Sim tenho dinheiro suficiente para ficar”. “Não, não quero viver aqui, tenho emprego e família no Brasil”.

Desembarcamos e eu tinha 40 minutos para pegar o voo para Genebra. A possibilidade de ficar presa ali fez com eu eu fizesse tudo super rápido e logo cheguei a imigração.

- Passport. Where are you going?

- Geneve.

- For how long?

- Three weeks.

- Have a nice trip.

Simples assim. Mas ainda faltava o embarque. O aeroporto não estava cheio e eu esperei tranquilamente na fila. Quando a funcionária, gentilmente, cedeu a minha vez para uma alemazinha que estava atrás de mim. Isso mesmo, sem o menor pudor. Não, ela não estava grávida. Não ela não tinha 80 anos, muito menos segurava uma criança de colo. Ela era simplesmente mais loira. Eu sabia! Os alemães são terriíveis! Eu sabia!
Chegou a minha vez:
- Do you speak english?

- Yes

- Are you american?

- No brasilian.

-Ah – com um sorriso no rosto – Bom dia! (por favor, não me fale de futebol. Por favor, não diga Pelé! Ronaldinho!) E eu abri a mochila, tirei o computador. Cables? Tirei os cabos. E foi exatamente nesse momento. O homem começou a apontar as caixas.

- Do I need another box? – perguntei.

- How do you say it?

- Outra caixa?

- Otra caja – repetiu o sorridente guarda. Eu ignorei o espanhol e ele começou a apontar. E eu fui tirando tudo que ele pedia e repetindo em português.

- Relógio.

- Elôgo? logio?

- Não. Re. Relógio.

E assim foi. Óculos, casaco. Anel, pente. Tenis. E eu tirei tudo e coloquei na outra caixa. Foi quando ele disse:

- No, you don´t need to do this. I only wanted to know how to say this words in portuguese.

O universo só pode estar de brincadeira comigo. De todos os trilhões de alemães, eu fui encontrar o único piadista.

Ah! E Genebra pode ser ainda mais encatadora no verão...

domingo, 26 de junho de 2011

Onde estão as chaves?

Hoje eu fui até a casa da minha mãe. Porque eu precisava muito falar com ela. Porque era domingo e tinha jogo e eu não suporto mais futebol. Porque era final de bimestre a gente sempre passeia, todo final de bimestre. Porque eu passei por tantos lugares nesse mundo, que deve existir algum em que eu me sinta bem.
Passei na casa da minha mãe porque ela faz tanta, mas tanta falta, que confunde a minha razão e mistura as minhas lembranças. E hoje eu não sei mais o que é realidade e o que é sonho. Ou pesadelo.

Porque nesse ano eu vivi um monte de coisas, mas o que eu melhor aprendi foi engolir a tristeza e imprimir um sorriso: assim as pessoas se sentem melhores. No começo você até tenta dialogar com a razão e explicar que não haverá emprego, viagem ou filhos que diminuirá a falta que ela faz. Mas aí vêm os números, um mês ainda é pouco, mas seis meses já é bastante e então o número mágico: um ano. E você é obrigada a superar. Então você aprende e pede um café. E sorri. E eu tomei tantos cafés nesse último ano… Mas as vezes você recai, e tenta explicar mais uma vez, que ela era sua mãe e sua melhor amiga. Que só ela te conhecia e te dizia a verdade. Que você se divertiam e brigavam. Que comiam hambúrguer no fim da tarde de domingo e passavam a noite corrigindo provas. Que você dormiu na cama dela, porque estava doente, e ela dormiu no sofá. Então elas te dizem para seguir a vida, e não cultivar sofrimento. Parecem se esquecer que você defendeu o mestrado, estudou, aprendeu outra língua, não largou os empregos. Mesmo sem achar que essas coisas façam sentido, já que ela não está mais aqui.

Hoje eu fui até a casa da minha mãe. Estacionei o carro, peguei a chave e quase entrei.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

O guarda

Como sempre cheguei quase atrasada na escola. Era terça feira e chovia em São Paulo. E claro que eu não tinha guarda chuva, nem capa. Por sorte, encontrei um lugar na porta. Quer dizer, naquele momento eu achava que era sorte. Foi a baliza mais rápida que eu fiz na vida: se corresse, teria tempo para um café antes da aula.

Durante o dia tudo correu bem. Depois do almoço, fui até o carro. E qual a minha surpresa ao virar a esquina? Dois guardas estavam na frente do carro. Meus joelhos começaram a tremer. Eu sabia que não poderia ter problema, tinha parado em local permitido e meus impostos estavam em dia. Mas confesso: tenho medo de polícia. E eles não pareciam felizes: davam voltas em torno do veículo, abaixavam procurando alguma coisa, colocavam a cara no vidro para investigar o interior. E aos poucos, fui me aproximando. Fosse o que fosse eu deveria enfrentar.

- Olá - eu disse, receosa.
- Esse carro é seu? - perguntou o guarda, nada simpático.
- S-s-i-i-m - gaguejei. Não seria melhor ir para casa de ônibus?
- Porque essa carreta é roubada. - E nesse momento percebi a carreta. Tinha chegado com tanta pressa que não tinha percebido.
- É?
- É, roubaram a carga e largaram a carreta aqui. O carro é seu mesmo?
- Sim.
- Porque eles está na frente da carreta roubada e pensamos que ele fosse roubado também. - Hein? Alguém pode me explicar qual a lógica utilizada pelos simpáticos policiais? Será que eles achavam que o cliozinho era capaz de guinchar uma carreta de 100 toneladas?
- Não, não é roubado. É meu.
- Mas olha só a bagunça! Ele é o perfeito carro roubado. Está cheio de livros soltos, tem um pé de tênis na frente e a palheta do limpador está levantada.

Fiquei com vontade de explicar para ele como era a vida de uma professora, que carregamos muito material, e usamos muitos livros que são pesados. Dizer que naquele dia eu tinha chegado atrasada, que não tinha guarda chuva, nem capa, e não tinha percebido a palheta, porque desliguei o carro correndo. Contar que com as tristezas da vida e com a ansiedade do mestrado eu tinha engordado uns quilos, então que eu estava jogando futebol e que se ele procurasse bem o outro pé do tênis - que na verdade era uma chuteira - estava lá, no banco de trás. E que ele não tinha nada com isso, que ele deveria cuidar do bem estar das pessoas e não se preocupar com a organização do meu carro. Mas não disse nada do que eu pensei. Me restringi a um abafado:

- Me desculpe. Não conta pra minha mãe?

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Pitágoras e o primeiro beijo

Quando estava na escola, nunca imaginei ser professora. Mas um amigo um dia me pediu para substituí-lo na escola em que trabalhava. Ele iria participar de um Congresso por três dias. O plano parecia ótimo, eu ganharia uma grana e o trabalho era fácil: cuidar dos alunos enquanto eles faziam uma lista de exercícios. O que poderia dar errado?
Nada. E de fato, não deu. O que veio depois é que mudou a minha vida. Acabei ficando mais na escola, para substituir a professora de geometria do fundamental que tinha sofrido um acidente.

Em uma aula de teorema de Pitagoras,  quando eu já estava um pouco mais a vontade com a escola, com a classe e com os alunos  uma aluna pediu para ir ao banheiro. Claro, pode ir. O que eu não sabia, e só eu não sabia isso, é que aquele era o horário do intervalo do primeiro colegial. E que a tal menina queria encontrar um garoto para o primeiro beijo. Bem na minha aula. Quando ela voltou para a classe, era tanta felicidade que ela olhava através de mim. Não me via, não via o Pitágoras e nem a melhor amiga ansiosa por comentários. Sentou e abriu o caderno com um sorriso no rosto.

E foi nesse dia, com teorema de Pitágoras e primeiros beijos que eu resolvi ser professora. Porque nesse dia eu percebi que a gente pode se surpreender com as pequenas felicidades e surpresas do dia a dia. Porque nesse dia eu entendi que ser professora é lidar com gente e gente se emociona, encanta, se diverte.


Mas o cotidiano também nos engole. E a gente pega a Rebouças parada, acumula coisas para corrigir, se irrita, briga com colegas, atrasa material, toma bronca. E de repente não se lembra mais porque escolheu fazer aquilo. E então você resolve esquecer a gripe, a pilha de provas para corrigir, o trânsito e até o eclipse, para assistir a peça dos seus alunos na quarta-feira à noite. Se emociona ao vê-los no palco. São os seus alunos, de todos os dias, aqueles mesmos que não fazem lição, que conversam nas aulas, que detestam física. Que agora estão lá, são maridos traídos, sargentos, assassinos, leram Sheakspere.
Você reconhece alguns e é apresentada a outros. E se lembra porque adora ser professora.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Pula a fogueira, Iaia

Ela caminhava pelos corredores sem olhar para o lado. Os passos certeiros: tinha uma missão. Entrou na enfermaria, colocou os cadernos em uma mesa, puxou um banco e sentou:
- Mãe, eu sou feia?
A mãe, entre esparadrapos, bandeides, não estava preparada para consertar um coração. Pensava que demoraria mais uns anos, pelo menos até os 15.
Mas, como todas as mães, escondeu sua surpresa e respondeu:
- Claro que não, minha filha. Claro que não. Por que você está perguntando isso?
- Porque nenhum menino quer dançar comigo na quadrilha! - ela respondeu com os olhinhos brilhando de lágrimas que iriam cair.

Me impressionei com a familiaridade daquele problema: lembrei de todas as quadrilhas e todas meninas que já passaram e passam por essa tortura junina.

A escola mudou tanto desde que eu não danço mais quadrilha. Bullying, DDA, lousas eletrônicas, internet. É enorme o repertório das discussões nas reuniões pedagógicas. E porque ainda reproduzimos tantos rituais conservadores?

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

La policía soy yo - ou as pessoas e suas profissões

Conseguimos passar pela Espanha sem maiores percalços. Atravessamos o país de carro, encontramos lugares lindos. Conhecemos a Barcelona de Gaudi. Mas viajar é estranho, quando está acabando, a vontade de voltar fica maior do que a de ir e assim chegou o último dia.

Fomos contentes para o Aeroporto. Até enchemos o tanque do carro quase sem ajuda! Tudo certo. Só que o voo estava atrasado: o aeroporto de Madri - onde faríamos conexão - estava coberto por neblina. Esperamos. Embarcamos. Chegamos a Madri três horas depois, a meia noite.

"Os passageiros com destino a América do Sul devem permanecer no avião". Não! Como assim? O nosso voo é a... 12:15! Tentamos com a aeromoça:
- É melhor esperarem aqui, o ônibus já vem e será mais rápido.
- Mas você acha que vai dar tempo?
- Não, sei, se o voo estiver atrasado também.
- E está?
- Isso eu não posso dizer.

E quem poderia, senão alguém da companhia áerea?

- O ônibus não vem, podem ir caminhando. - hein? como? assim, agora que já se passaram 15 min? Ok, caminhamos. Caminhamos. Metrô. Caminhamos. Elevador. Caminhamos. Polícia federal. Caminhamos. Terminal U 69. Chegamos, mas o avião tinha partido. Ótimo. Vamos até o balcão da Ibéria e encontramos toda a latino américa: Quito, Guayaquil, Lima, até uns holandeses simpáticos que iam para Santiago, Bogotá, e nós, para São Paulo. Era uma confusão completa e o rapaz atrás do balcão não parecia feliz. Sim, era um, atendendo toda a latino américa.  Logo chegou outro, mas não diminuiu a confusão. A garota do Equador conseguiu um voo para La Paz, depois iria para Lima e enfim, casa. O casal de velhinhos londrinos iam para Galápagos, mas conseguiram um voo para Buenos Aires. O nosso desfecho não parecia promissor. E não era.

- Este balcón se cerrará a las dos...
- Sir, I don´t speak spanish, sir - gritou disse a senhora que tinha ficado o tempo todo atordoando a fila com seu livro e sua cadeira.
- I´m not talking to you, madam. I´m talking to them. Señores, dirijam-se a la planta 2, para el balcón de Iberia que es 24h, este se cerrará a las dos e voy a atender apenas hasta ella - ufa! "ella" era a Cristina! Estávamos salvas, ou pelo menos, pensávamos.

Chegou a nossa vez.
- Son las cinco para dos, yo no sé se voy a conseguir atende-las porque el terminal desliga sozinho, es la unica manera que tengo de ir para casa - o quê? Sim, eles estava nos dizendo que o computador desligaria sozinho as duas da manhã, depois de duas horas de espera, e a 10h de voo de casa. - pero voy a intentarlo. Su vuelo será mañana a las doce con veiticinco. Ustedes tienen que coger el autobus 1 que esta en la planta 2. Voy a cerrar la ventana e entregarei los ticketes e sus passaportes en la puerta. - e começou a descer a grade que fechava o balcão. E nesse instante, a senhora londrina dá um pulo até o balcão.

- Sir, you are not going to help me?
- No, I told everybody that we were going to close at two. Now it´s two o´clock. I´m going to close.
- You´re not. May I have your name, please? I´m going to talk to the authorities.
E a janela se fechou. Mas espere. E OS NOSSO PASSAPORTES? Fomos até a porta, enquanto a senhora chorava sentada, com seu livro, na cadeira, help me please, I don´t speak spanish. E nosso coração amoleceu... por cerca de... um segundo até que a porte se abriu e ela, mas rápido do que tudo voou no pescoço do rapaz da Ibéria. O rapaz se defendeu e entre gritos, empurrões, "I´m a professor at University of London!", "I´m doing my job", "Oh, if you worked in London", "You should speak spanish, aren´t you a professor?", nossos passaportes esperavam nas mãos do rapaz de uniforme vermelho. Conseguimos recupera-los depois que a segurança do aeroporto chegou. O que fazer? Caminhar até outro balcão da Ibéria.

Caminhamos. Mais escada rolante. Caminhamos. Ibéria. Fechado. E algumas pessoas eperavam que o balcão abrisse, loucas para contar como tinham perdido o voo. E o guarda chegou, nos disse que deveríamos ir para o outro terminal, que passássemos pela polícia federal. Mas já tinhamso feito a Imigração. O que fazer agora? Sempre tive muito medo da imigração. Chegando no balcão juntei todo meu portuñol e fiz o maior esforço para que o guarda não pensasse que eu era um completa idiota.

- La polícia nos mandó vir a usted. Queremos ir al balcon de Ibéria en otro terminal.

E o homem sem sorrisos pega nosso passaporte, olha cada um deles e diz:

- Non pasaram por la polícia, porque la polícia soy yo.
- Er... desculpeme, era um rapaz con ropas verdes.
- Son guardas civiles - e o meu espanhol não era suficiente para explicá-lo que para mim era tudo a mesma coisa...
- Pueden ir.
- Gracias.

Chegamos ao balcão da Ibéria e assim, depois de uma aeromoça, uma professora universitária, um agente de viagens, um guarda civil e la policía, chegamos ao hotel, onde o recepcionista esqueceu de avisar que o café da manhã iria até as nove e meia...

sábado, 1 de janeiro de 2011

Família buscapé vai à Europa

Ok, eu nunca mais falo mal dos portugueses. A partir de hoje nada de piadinhas com os nossos colonizadores. Lembram daquele filminho-sessão-da-tarde "Férias frustradas"? Então, estamos escrevendo um novo roteiro. Começa em Lisboa. Destinos escolhidos, passagens, hotéis e carro alugado, eu, meu pai,  Cris e a Raquel - a nossa companheira do GPS. Talvez, seja dela toda a culpa...

- Mantenha- se a esquerda para a saída da 8 e vire a direita.
- Hein? Direita?
- É a direita...
- Passou!
E lá vinha a Raquel:
- Recalculando... siga o trajeto em destaque. Recalculando...

E muitos "recalculandos" depois...

- Pedágio!
- Cuidado que aquele é sem-parar!
- Tem sem-parar em Portugal|?
- É com moedas! Alguem tem moedas?

No próximo pedágio...

- Cuidado! Aquele é sem parar!
- Alguém tem moeda?
- Ué mais não tem onde colocar as moedas... Não tem nada!
- Então vai. Vai que tem um cara atras!
E fomos! Mas o sinal tá vermelho! Dá ré. Volta!

Mas não tem nada! Então vai. Vai! E fomos... Até o próximo pedágio...

- Agora vamos escolher um que tenha cabine!
- Ticket, por favor.
- Não tenho.
- Mas você tem que ter, todos têm que pegar o ticket na entrada da auto-estrada.
- Mas eu não tenho.
- Como você entrou?
Ops... começamos a entender algumas coisas... E aprendemos uma nova palavra: fatura = multa.

E no primeiro dia de 2011... Pega o roteiro: vamos para a próxima cidade. Faz o checkout no hotel, põe as bagagens no carro.

- A gente tinha que ficar 3 noites aqui.
- Mas no papel da Mariana são duas.
- Como são duas?
- Esta aqui: Óbidos duas noites.
- Cadê o voucher com as reservas?

Tira as malas do carro e volta para o hotel: reserva errada...

- Então vamos conhecer aquela cidadezinha aqui perto.

E a Raquel começa de novo... Recalculando, recalculando. E de recalculando em recalculando passamos por quatro cidades, que estavam todas fechadas: era primeiro do ano.  Mas os lugares eram lindos. Como a Raquel conhecia a região! Calma! ali na frente está alagado! Recalculando. Vaio ficar de noite. Vamos voltar.

- A gasolina está acabando...
- Ali tem um posto.
- Pára.
- Não tem frentista, pergunta para aquela mulher.

- "Ah! eu não sei colocar gasolina?" - então, o que está fazendo em frente à bomba? Aquele menino deve saber. Tanque cheio. Vamos. E a 500 m depois... O carro pára. Pára completamente, não liga, não dá sinal de vida. Nada. Liga para o socorro da estrada e 15 min depois...

- O que aconteceu?
- A gente abasteceu e o carro parou. Assim, do nada.
- Não é combustível errado? Do que é a viatura? - sim, todo carro em Portugal se chama viatura.
- Gasolina.
- E vocês não colocaram gasoleo?
- Hein?

Anotado: gasoleo não é gasolina...
Agora, já estamos no hotel. Está tudo bem.


Mas calma, ainda vamos para a Espanha.