sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A nossa Universidade


Todos os dias preparo meus alunos para entrar na Universidade. Hoje, fui preparar a Universidade que quero para os meus alunos.

Estava afastada do movimento estudantil desde que defendi o mestrado. Deixei um ME  fragmentado e desarticulado. E passei acompanhar as coisas de longe, e infelizmente, a maior parte das informações vinham da  grande imprensa. E assim, de longe, parecia plausível aquela história que me contavam todos os dias nos jornais. Mas, terça feira, até isso deixou de fazer sentido.

Já está na hora das pessoas perceberem que ser contra a polícia militar na campus não significa ser contra segurança ou por interesses pessoais. Sou contra a polícia militar na USP porque sou contra políticas públicas que criminalizem as nossas ações sem discuti-las. O governo do estado já fez isso com o cigarro, que deveria ser tratado como questão de saúde pública mas foi criminalizado. E hoje não fumamos nos bares, e quase não reclamamos desse fato. Há, inclusive, os que apóiam. E agora está fazendo novamente. Polícia não é sinônimo de segurança. A Universidade precisa de um plano de segurança publica que repense a sua ocupação, seus espaços, seus acessos. A gente se acostuma com tudo e tenho certeza que se acostumaria com a polícia no campus e logo deixaria de pensar o que isso significa. Um dia, um amigo contou que na sala de professores de sua escola outro professor dizia que a solução para a educação no Brasil seria colocar um policial em cada canto da sala de aula, assim, cada vez que algum aluno não se comportasse, tomaria tiro. E ele não estava brincando. “Assim eles saberiam como se comportar”. E faltaria pouco para alguém dizer que ofender funcionário público é crime e isso seria um pulo para defender que aluno mau criado fosse para a cadeia. "Só para aprender a se comportar".

Não. Definitivamente não é essa sociedade que quero. Não é para essa sociedade que formo todos os meus alunos.  E a Universidade faz parte da sociedade.

Assembléia de estudantes da USP no salão nobre da faculdade São Francisco.
Hoje, na assembléia de estudantes na São Francisco encontrei um movimento estudantil articulado e respeitoso. As pessoas se ouviam. Não se falava de maconha, mas de projetos de Universidade. É uma pena que 73 pessoas precisaram ser presas para que pudéssemos colocar em pauta questões que há muito tempo deveriam ser amplamente discutidas. Porque a defesa da Universidade que queremos - pública, segura e para todos – não deve ser uma luta só de estudantes, mas de toda a sociedade.