domingo, 6 de novembro de 2011

Caras e bocas

Um dia eu me apaixonei por um moço. E como em toda paixão, nos deixamos levar pelos encantos e fazemos coisas que não faríamos caso estivéssemos sob controle de nossas faculdades mentais. E assim fui parar em um Mc Donalds de shopping em um domingo ensolarado. E para mim, tudo estava bem porque eu estava com o moço. Também como em toda história de amor, o moço já tivera outras moças e eu não me sentia muito a vontade com algumas... Entre o Big Mac e a coca cola eis que ele solta:
- A fulana entende emotions.
- Hein?
- É, aquelas carinhas... Eu escrevi uma hoje no email e você não respondeu.
- Hein?

Ok, eu deveria ter entendido aquilo na hora: estávamos com problema de comunicação. E não era por causa da ausência de sorrisos eletrônicos. Eu quis responder, dizer que eu tinha me formado em física e em jornalismo, que trabalhava em uma revista, que sabia programar em C e que portanto, não precisava de carinhas de computador. Quis completar dizendo que eu passei a adolescência com amigos reais, cervejas e festas reais e que por isso não, não usava o Icq. Mas se depois de seis meses de namoro ele ainda não tinha percebido nada daquilo, minhas palavras não serviriam... Então só fiquei olhando para o moço e não fui capaz de me defender. Fui para casa triste. Naquele dia não liguei para o shopping, a fila do cinema ou a quantidade de sódio na minha comida. Mas cheguei em casa me sentindo a pessoa menos querida do mundo.

Como era de se esperar, alguns Mc Donalds depois, troquei o moço por outro, que gostava dos meus erros de português. Preferia meu rascunho, do que a versão editada e corrigida, dizia.

Essa semana ao ler essa notícia no jornal, me senti, de certa forma, vingada. A folha republicou uma notícia do Times que discute a utilização dos emoticons principalmente entre os ambientes formais e qual os possíveis impactos na linguagem. Gostei, especialmente, de uma coordenadora de escola de Manhathan, Michele Farinet:


"Para mim, é como um filme malfeito em que, logo que o pai agarra o cachorrinho, a câmera imediatamente focaliza a expressão lastimosa do filho - como se o diretor não acreditasse que o espectador fosse capaz de sentir por si próprio uma emoção condizente com a cena", afirmou Farinet por e-mail. "É isso que os emoticons fazem. Por favor, não me 'mostre' que eu deveria estar com uma cara alegre ou triste ou que você está com uma cara triste ou alegre. 
Você seria capaz de imaginar a leitura do final de 'O Grande Gatsby' dessa forma? 'Então partimos, barcos contra a corrente, levados incessantemente de volta para o passado :-('"

E agora, José? Vai lá, defender as carinha de computador.

Hoje eu troquei os erros de português por notas musicais, e levo a vida cantando. Ainda que desafinada.

Um comentário:

@LuMetal disse...

Todas as formas de comunicação são válidas, devemos sim é ter o bom senso de saber onde e como usá-las.

bj

:P ;)