quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Os peixes somos nós

O Ferenc diz que um dia eu vou chegar em casa e uma estrela do mar estará abrindo minha geladeira. Confesso que a imagem me perseguiu por um tempo. Algo parecido com isso.




Parece que uma artista plástica francesa tomou a idéia do Fê, ou a minha obsessão pelo aquário e transformou em sua obra de arte. De acordo com o Uol, ela “humaniza” os peixes.

Não sei se humanizar seria o adjetivo que eu escolherira para descrever o seu trabalho. Principalmente depois de visitar o site da artista. Não sei se esta imagem, por exemplo, humaniza os peixes. Acho que desumaniza os homens. Ou pelo menos nos faz pensar se, de fato, não estamos nesse sushi-bar. Metaforicamente falando.




Interessante, talvez. Divertido, possivelmente. Mas certamente vale a pena conhecer as imagens.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

De volta aos seis

O meu aquário não está assim, funcionando muito bem... Pois é, um aparelho fundamental faz microbolhas e um barulho um pouco insistente. Voltei à loja para resolver o assunto. Marcamos uma visita, eles virão arrumar o aquário.

- Eu queria tanto que o aquário ficasse bom, já tem um monte de estrelas-do-mar, e elas estão crescendo!
- É, no meu aquário também tem, e o mais legal que elas desaparecem de repente.
- Como assim, somem?
- É tem um dia que elas não estarão mais lá. E depois elas voltam.
- Mas eu não quero que elas sumam.... O que eu faço para elas ficarem? Será que não tem uma comida especial?
- Não, elas vão sumir.
- Ah, mais isso não é nada legal...

E então eu percebi uma paradinha na conversa, ele respirou e olhou para mim com uma cara que eu já reconheço.

- Não, não é que elas somem, elas se escondem e você não vê. Mas elas estão lá.

Ai meu Deus do céu. Por que toda vez que eu falo desse aquário esqueço que tenho trinta anos?

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Da série diálogos com a minha mãe.

As duas em frente ao aquário

- Mãe, eu vou cutucar e você vê se ela se mexe. E aí?
- Nada.
- Eu acho que ela morreu... Mãe, e se todas morrerem?
- Ana Luiza, não dá para você ficar sofrendo cada vez que uma perninha morrer!

Mesmo?

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Na sala de professores

5a feira a tarde.

- Durval, acho que a minha anêmona morreu, ela está tão esquisitinha...
- Cutuca ela e veja se ela reage, porque se ela tiver morrido mesmo é melhor tirar do aquário.

Cheguei em casa direto no aquário. E se ela ficasse paradona? Como eu teria certeza de que ela estava realmente morta? Encostei nela bem de mansinho, com o coração na mão. E ela se encolheu toda. Ufa!

3a feira de manhã.

- Cutuquei. E ela se mexeu! Mas ela continua esquisitinha...
- É, Analu, esses bichos não morrem assim, de uma hora para outra, vão morrendo devagarzinho. Sua anêmona está morrendo.
- Morrendo? - eu, com a cara mais triste do mundo - Mesmo? Ai, mas eu não posso fazer nada?

Foi então que ele começou a contar uma história da filhinha dele que tinha plantado um pé de feijão na escola e um dia esqueceu de regar.

- E aí, quando ela percebeu que o feijão tinha morrido, foi aquela choradeira.

E quase, quase, quase eu comecei a me defender dizendo que JAMAIS iria esquecer de cuidar dos meus bichos, que aquilo não iria acontecer comigo. Mas, por um momento eu percebi que estava sendo comparada com uma garotinha de seis anos e, por sorte, meus instantes de bom senso me pouparam de uma humilhação ainda maior.

Cheguei em casa e fui olhar a minha anêmona. E ela estava lá, esquisitinha. Mas hoje eu resolvi não cutucá-la.

domingo, 9 de novembro de 2008

Para olhos atentos

Passar horas na frente do aquário se tornou uma grande diversão. O incrível é que podemos ficar dias vendo nada, somente rochas e água.

Mas, por alguns segundos, a natureza colabora e são esses instantes que fazem a espera toda valer a pena.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Entre pombos e pragas - o segundo pesadelo

Outra noite sonhei que meu banheiro tinha sido tomado por praguinhas do aquário. Praguinhas agora que acordei, porque no meu sonho elas eram horríveis e nojentas. Tinham ocupado meu banheiro. Sim, meu banheiro, branco, lindo, lindo, lindo. Para cada pastilha da parede, uma praga. Nos vãos da janela, pragas. No vidro do box, elas estavam lá. Até a torneira da pia estava coberta por elas.

E vocês sabem o que eu pensei nesse meu sonho-pesadelo? “Como será que eu faço para recuperar o meu banheiro sem acabar com elas?” Sem acabar com elas!!!!! Justo eu que sou tão pouco amigável. Justo eu, que adoro a cidade e toda a sua esterilidade. Não sou uma defensora dos animais. Não gosto nem de gatos, arranco todas as ervas daninhas dos vasos. Expulsei as pombas da minha janela. E agora, sonhava em criar pragas no meu jardim! Só porque elas tinham nascido no aquário.

Não bastasse bater a cabeça, agora vem esse aquário acabar com a minha personalidade.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

E ela estava lá.


Parada do vidro. Uma aranha? Uma estrela-do-mar anorética? Eu não fazia a menor idéia, mas estava absolutamente hipnotizada pelos seus movimentos. A sua perna fininha se movia pela água e vários minutos se passaram até que a Fê chegasse ansiosa pelo futebol.

Subimos e eu toda animada: tem um bicho novo no aquário.
- É um ofiuróide.
- Hein?
- Da família da estrela do mar.
- Ufa. – fiquei bem mais animada com um ofiuróide do que com a possibilidade de uma nova praga.

- Olha, lá Fe, é tão bonitinha...
- E agora ela ta nadando.

E, de repente, blurp. A quase estrela-do-mar foi parar no filtro do aquário. E nasceu no nome desse blog.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

A primeira noite fora de casa

- Mãe, vamos passar em casa antes de ir à feira?
- Mas você não queria trabalhar no mestrado? Assim vai demorar muito.
- É que eu dormi aqui e eu queria ver se está tudo bem com o aquário.
- Acho que eu descobri porque eu não queria que você tivesse peixes.
- Para eu não viver numa bolha?

E quem não vive?

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Um poliqueta entre nós.

Como se podia esperar, o aquário foi a atração inicial da festa (depois tiveram outras, que não cabem nesse espaço...). Todo mundo que chegava tinha que olhar. Ou por vontade própria, ou por insistência minha. Mas as pessoas se divertiam. Eu estava animada com a possibilidade dos primeiros amigos biólogos olharem o aquário. Tudo bem, ainda não tem muita coisa para ver, mas cada pedacinho de vida tinha sua parcela de carisma. Enfim, a Fê chegou, e logo começou um interrogatório sobre o que seria cada coisinha que apresentasse o menor dos movimentos. O que é isso? E isso? E aquele?

- E esse aqui, ó? O que é?
- Um poliqueta. – era mais um tubinho com uns cabelinhos brancos para fora.
- Mas, o que é isso? – eu já estava me preparando para desistir dos peixes e passar a criar pragas.
- É um bicho que vive dentro de um tubo – tá bom, eu assumo que essa parte é uma reconstrução do diálogo com a Fernanda, eu não lembro bem qual a definição...
- Fê, e poliqueta é do bem?
- É, é do bem sim.


Ufa.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Começar de novo

Uma madrugada lavando pedrinhas.
Quatro horas escolhendo o melhor lugar para colocar cada rocha.Várias leituras sobre pH, amônia, nitritos e nitratos.

E duas semanas para perceber que a bomba não estava funcionando e ter que começar tudo de novo...


Lembram das pragas? Bom seria se aquilo fosse só uma metáfora.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O primeiro pesadelo

Esta noite tive meu primeiro pesadelo com o aquário. Sonhei que nascia uma cobra horrorosa dentro dele e que ficava me encarando. Eu não sabia o que fazer, morria de medo de chegar perto e resolvia “dormir”. Ao “acordar”, a cobra tinha se transformado em algumas carpas, mas nem por isso menos assustadoras.

Cadê o Sr. Freud numa hora dessas?

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O que você pode aprender sobre sua familia ao escrever um blog


Recebi meu primeiro comentário no blog. Foi um momento de animação que durou pouco. Era uma crítica. Fiquei em dúvida se devia apagar a mensagem. Desanimador esse começo com tão pouca receptividade. Foi, de novo, minha mãe que insistiu: “você escreve algo público e não sabe aceitar críticas?” Ela tinha razão, mas a minha obsessão não permitia pensar em outra coisa. O blog existia há tão pouco tempo que parecia difícil eu ter algum leitor, quanto mais alguém que me criticasse. “E se for o seu pai?” Ah! Sempre ela, sempre com razão...
- Pai, você deixou um recado no blog?
- Eeeeeu?
- É, pai, um recado.
- Eu não me chamo anônimo...
- Mas, pai, planta é ser vivo.
- Ops. Eu acho que a pessoa quis dizer animal...

domingo, 19 de outubro de 2008

Antes dos peixes, as pragas

No meu aquário ainda meio sem vida apareceram dois novos seres. Fiquei emocionada. Fui até a loja, contar a novidade para o atendente:

- Nossa, já tem tanta coisa lá! Apareceram até umas plantas!
- Plantas?
- É, que parecem um tubinho com uns cabelinhos... Assim ó (e tentava, com as mãos e um sorriso do rosto, descrever para o moço que me olhava com pena).
- Tentáculos?
- Isso mesmo!!! – como não tinha pensado nisso antes? Tentáculos, claro. E fiquei ainda mais animada.
- Ihhh. É uma praga. Você pode pegar uma agulha e injetar um remédio que mata ela rapidinho.

Eu nem coloquei os peixes ainda e já vieram as pragas.
O aquário é o reflexo da minha vida.

sábado, 18 de outubro de 2008

Geração espontânea

Este texto é para o meu professor de biologia da sétima série. Foi ele que me fez acreditar que não se pode gerar vida do nada. Não lembro bem quais eram os argumentos, mas acho que tinha algo como uma experiência com fungos e bolor. Só sei que fui absolutamente convencida de que a vida não surgia assim, de repente. Mas...

Chegou o aquário. O que gerou muita excitação e uma angústia: 40 dias antes do primeiro peixe. O que vou fazer com isso sem peixes? Toda a minha ansiedade se manifestou imediatamente: não vou agüentar a espera. Mesmo assim, lavei todo o cascalho (bem, a Cris ajudou bastante nessa parte...), coloquei as pedras e a água.

Releiam o texto: cascalho, pedras e água. Tudo inanimado, sem graça. E eu ficava sentada na frente do aquário esperando, esperando, esperando. Esperando o dia do peixe chegar. No meio dessa espera: opa! Algo se mexeu! Era a água? Não, era uma minúscula conchinha andando pelo aquário. Comecei a perceber que ela não estava sozinha.

No sábado já tínhamos, dois caramujos, uma estrelinha do mar e meia. E foi assim que eu quase deixei de acreditar no meu professor de biologia.

Marinheira de primeira viagem

Fiz trinta anos. Tá bom, ninguém aguenta mais ouvir isso, mas não tinha forma melhor de começar este texto.

Porque a história começou lá atrás, quando eu ainda tinha 8. Tivemos um aquário e nossos peixes aventureiros pulavam para o centro da sala. E morriam, claro. Essa experiência foi bastante traumática, não para mim, mas para minha mãe, que nunca mais me deixou ter um aquário...

Até hoje.

Foram anos de tentativas frustradas. Mãe, vamos ter um aquário? E logo vinha ela com mais uma coleção de peixinhos de plástico. "Olhe, estes, Analu, tão bonitinhos." Alguns meses depois, e agora, mãe, vamos tentar de novo? E ela com mais uma idéia brilhante: "Analu, estes são de vidro! E até bóiam".

E isso se repetiu por anos. Até o meu aniversário de trinta anos. Quando, enfim, eu ganhei um aquário. E eu que achava que a históra teria terminado ali, quando consegui o que queria, estava totalmente enganada.