Não quero mais morar em São Paulo. Agora mesmo fui ao banco. Quando saí de casa caia aquela chuvinha fina, que não incomoda, e é até agradável...
Mas, paulistana que sou, sai de casa correndo. Correndo para ir ao banco, tarefa que eu detesto e que me deixa aflita por antecipação. Tenho fobia das possibilidades de violência que essa cidade oferece.
Fujo do banco sempre que posso. E hoje, mais uma vez, saí de casa correndo. Quase não notei a presença do cego. Mas ele me percebeu.
- Me ajuda a atravessar a rua?
Parei, éramos eu e ele na calçada. Só podia estar falando comigo. Gelei. todos os noticiários da TV passaram na minha cabeça. É isso que acontece quando você tem fobia de alguma coisa: não pensa direito. E eu pensei na TV. E antes que esboçasse qualquer reação o cego já tinha grudado no meu braço.
- Me ajuda a atravessar a rua?
Pensei em dizer que ainda estávamos no meio do quarteirão, que ele não precisava segurar no meu braço com tanta força. Mas já era tarde. E na minha cabeça começava. Assalto. Batedor de carteira. E o cego andava.
- Você mora por aqui?
PCC. Sequestro relâmpago.
- Mora em prédio, é? Tem bastante prédio nessa região...
Roubo de órgãos. Estupro. Por que eu não conseguia mentir para ele? Ele continuava com as perguntas. E a esquina não chegava nunca. Chegou. Atravessamos.
- Para onde o senhor vai?
- Para a Cardoso. E você?
- Para a Turiassu. - menti. Não conseguiria dizer que ia ao banco.
Ele agradeceu, mas ameaçou subir a rua ao meu lado.
- Não, a Cardoso é para lá.
E foi assim que eu o deixei. Abandonei o cego no meio da chuva porque tive medo dele.
Quando era ele que devia ter medo de mim.
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